sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

" O Homem da Cidade "

Ele estava com um grande dilema; por um lado queria estar perto de Joana, e por outro lado, queria refazer a sua vida naquela aldeia, mas a amiga estava colocada a uma distância considerada que criava uma barreira entre os dois. Teria que resolver aquele dilema, não fazia sentido, construir uma nova vida longe que quem amava.

Naquela aldeia, perdida no alto da serra Amarela, tinha certamente uma vantagem no meio de muitas limitações; o ar era puro, a poluição sonora não existia, e a tranquilidade dos dias era de meter inveja a qualquer um. Podia levantar-se pela manhã e sair de casa, sem ver um único carro, sem ver uma única conversa de afronta à integridade moral. 
Aquela decisão de deixar a cidade para se integrar no meu rural, não recebia a concordância completa da sua tia. Ela achava que era um problema existencial que seu sobrinho tentava resolver.

In "O Homem da Cidade"
Quito Arantes

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

"A Carta nas Quatro Estações"

Os últimos dois dias foram de trabalho com a editora, e revisora de texto, preparando o meu novo livro, que deve sair a público no final deste inverno, um pouco penoso, em relação ao tempo que faz lá fora. Ontem e hoje nevou quase sem parar, e estou novamente isolado no meu canto, na brancura que caracteriza a paisagem nevada.
Senti que estava em falta contigo, amiga. Então resolvi fazer um chá de limão e escrever-te mais um pouco, para dar continuação a esta “Carta nas Quatro Estações”.
Como não tenho horas definidas para o meu trabalho e mesmo para dormir, e como de madrugada é quando me sinto mais à vontade para escrever, digo-te que os últimos dias não tem sido fáceis. Tenho-me sentido um pouco enclausurado no meu espaço, mas também sem vontade de sair no meio de tempestades, por vezes, de neve. O inverno serrano é mesmo assim, convida a estar em casa, com a lareira acesa, lendo, escrevendo, refletindo sobre a vida que levamos.
Esta vida de escritor não é de nada fácil, posso dizer que de momento, não dá nem para a sopa. Não fosse a minha pequena pensão, e passaria fome, com certeza. Um escritor anónimo, do público em geral, é muito difícil de se afirmar, se não tiver uma ajuda da comunicação social. Isso, eu tenho plena consciência, mas para mim, o meu legado está aí, com obra publicada. Vou continuar o meu caminho, com todos os sentidos à flor da pele, não me importa se um dia vou cair na rua, ou numa cama de um hospital, ou mesmo num lar de terceira idade. Quero viver a vida que me é justa. Trinta anos de trabalho por conta de outrem não foram suficientes para me darem, um descanso merecido, não pelos anos de trabalho, mas pelo que contribui para este país descaracterizado, sem futuro histórico. Um país à espera de D. Sebastião, onde não faltam os velhos do Restelo. Mesmo assim ainda me sinto um privilegiado na minha situação de vida real, em comparação com muita gente que perdeu tudo, devido à ambição de ser rico. Nunca fez muito sentido, para mim, querer muito além daquilo que posso usufruir no dia-a-dia, mas ver resultados do meu trabalho, que me desafogue a vida, lá isso, luto todos os dias, por uma melhor vida em qualidade.
 O ar que respiro ainda é meu, e com esse e os montes e vales da serra, o caminhar nos trilhos da floresta, o verde dos carvalhais, vidoeiros, e todos os ribeiros de vem dos montes e me refresco das longas caminhadas, serão sempre uma conjugação do ar que respiro da montanha. 

Capítulo XXV
Excerto
In "A Carta nas Quatro Estações"
Quito Arantes


segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

"Contos de Encantos"

No dia da concentração das vozes indignadas com a situação política e económica, toda a sala magna da universidade, que tinha sido requisitada para a reunião, era deveras pequena para tanta gente. Começaram a afluir ao espaço pessoas de todas as fachas etárias e estratos sociais. Vinham eufóricos, acreditavam que estava ali um novo rumo para a sociedade. O que parecia ser uma reunião formal passou a um evento contestatário. Mateus reuniu o grupo de trabalho, sentaram-se na mesa oratória, e, depois de um discurso inflamado e de ter lido o memorando de dez páginas, muita gente veio oferecer-se como voluntária para fazer parte do MC. Havia pessoas de várias zonas do país, até do Algarve apareceram. As redes sociais surtiram, sem dúvida, um efeito eficaz na divulgação do MC.

Uma das finalidades daquele movimento era destituir toda a classe política vigente até então. No pensar dos dois amigos e de seus seguidores, aquela classe política estava completamente viciada, envolta de compadrios e esquemas de corrupção camuflada. Teria de haver sangue novo a conduzir o país. 

Excerto do conto: "A Conquista do Poder aos Malfeitores"

In "Contos de Encantos"

a editar brevemente

"Até Sempre!"

No seu escritório, sentado na sua secretária, ligava o computador, punha a tocar um CD de Keith Jarrett, e as palavras fluíam numa ligação direta entre mente e teclado do computador, onde os dedos procediam os seus textos no word. Escrevia até que lhe esgotasse a inspiração do momento, então depois repousava no divã que ficava ao fundo do escritório, e sentia que ganhara o dia de trabalho, muito embora não fosse visto monetariamente. Sentir-se realizado era para ele uma bênção de Deus.

Excerto
In "Até Sempre!"
Quito Arantes

sábado, 25 de janeiro de 2014

"A Carta nas Quatro Estações"

Tenho o privilégio de poder não distinguir dias da semana de fins de semana. Mas sei que todos os dias são dias de trabalho. Não um trabalho de horas fixas, mas de compromisso com os meus objetivos.
 Apesar de não ter a oferta dos grandes centros urbanos, tenho aquilo que me faltava; o encontro sistemático com a mãe natura, onde reflito sobre a minha vida, e aquilo que pretendo com ela. Ainda mesmo agora me levantei, pelas 4:30 horas, tomei um duche bem quentinho, fiz um café forte, e sem imposição externa à minha vontade, estou escrevendo-te, porque é assim que quero que as coisas aconteçam. Não é fácil viver assim, abdicar de muita coisa, que por vezes até dava jeito ao dia a dia, mas como muita gente o diz: - ”não se pode ter tudo”.
Uma coisa muito importante, e talvez essencial, eu tenho; uma paz interior, que suporta todas as minhas adversidades. Já tive ambição de ser rico, dar a volta ao mundo, ou então viver na ostentação, mas um sinal, talvez do Supremo, me fez ver a luz da razão, e sentir, quanto pequenino nós somos no universo. O legado que deixo, neste mundo terreno, são os meus escritos, fruto do meu trabalho criativo, ou não, tu o podes dizer, amiga. Deus assim quis que fosse, não ter filhos, não foi nenhum drama para mim. Foi algo que devia estar premeditado para mim. Agora vejo, que a frase religiosa: “ Deus escreve bem, por linhas tortas”, assenta que nem uma luva em mim…

Capítulo XXIV
excerto
Quito Arantes

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

" A Carta nas Quatro Estações "

Hoje acordei como é quase habitual, por volta das 4:30 horas, com vontade de escrever mais umas linhas, desta prolongada carta das quatro estações. No fundo, fica o registo de certos pormenores da minha vida diária, mas mesmo assim, não quero que esta carta se torne um simples diário descritivo de tarefas. Quero que saibas, amiga, que toda ela contém sentimentos e sensações vividas no alto da serra, por onde nem toda a gente sabe o que se passa no meu caminhar pelas calçadas portuguesas centenárias, onde me deslumbro no inesperado. Guardo o silêncio da natureza, transformado por vezes em chamamentos ao concílio da alma, ao sentir o mundo além do consumismo cosmopolita.
Ontem recebi uma vista da D.ª Maria, que gentilmente, me veio trazer oferendas da terra. Uma senhora muito simpática e humilde que quer sempre o meu bem, preocupando-se que nada me falte de comer. Tivemos uma conversa à mesa da sala, muito agradável, e eu por fim, como não lhe podia retribuir grande coisa, ofereci os meus serviços de carro, para alguma coisa que quisesse. Tenho pouco para oferecer a esta gente tão afável, mas sempre posso oferecer, um serviço personalizado; uma fotocópia, um fax, ou e-mail, ou mesmo até uma ida à farmácia.
 Não me importo de ser moço dos recados desta boa gente, e faço isso com orgulho, porque sei que precisam, e evita-se assim outras despesas desnecessárias.
Ainda ontem, o meu grande amigo Tio Franklin, “Chefe da aldeia”, andava preocupado comigo, pois não via o meu carro em lado nenhum, depois da grande nevada que cobriu o lugar com um manto de neve, e que se prolongou por três dias. Os meus vizinhos sabem que sempre que me ausento por mais que um dia do lugar, os aviso, para assim estarem sossegados. Gosto do apreço que têm por mim. Fazem-me sentir uma pessoa desejada no seio deles.

Agora que a neve se desvanece aos poucos, fica a frescura das águas, irrigando os campos férteis das vizinhanças, que aguardam bons dias de primavera para as sementeiras.

Capítulo XXIII
Excerto
Quito Arantes

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

"A Carta"


           Como poderei dizer que estou completo se ainda não tenho o meu Amor perto de mim? Tento esquecer os momentos de falta, abstraindo-me daquela dor no peito pela sua ausência, e imagino como será bom um dia tê-la ao pé de mim, partilhando a vida em comum. Quero envelhecer com o seu terno toque e abraço caloroso que me dá nos pontuais encontros a dois.
        Já afirmei que este inverno seria de reflexão, onde retirarei o melhor que ele me poderá dar. Estou um pouco limitado de movimentos na natureza, pois o agreste tempo aqui na serra, nem sempre deixa o astro rei iluminar estas terras fecundas. Sei que a natureza também tem momentos de imagens tristes, principalmente nesta estação do ano, que me enclausura em casa. Mas esta chuva que cai, incessantemente, tratará mais verdes campos, mais florir de plantas que surgirão no início da primavera. Essa sim, bela de se ver, no rejuvenescimento da flora, no edificar das aves.
         Queria ultrapassar esta estação do ano, mas não o posso fazer, quero que seja naturalmente, no acompanhar dos dias, até que ela dê lugar à nova e bela primavera. Ainda faltam tempos de nevadas, tempos de frio gélido. Eu continuarei aqui no meu escritório improvisado escrevendo-te, minha amiga, que sabes bem mais do que eu de plantas e animais. Mas será sempre com apreço, que te relatarei estas quatro estações pelas quais vou passando, e será um ano de escrita, até que chegue novamente o outono para assim terminar esta carta que te escrevo…


excerto do capítulo XXII

In "A Carta"

Quito Arantes


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

" Contos de Encantos "

Quero pensar e permanecer nesta ternura que toma conta de mim e, com ela, erros passados serão corrigidos como a limpidez de um rio poluído, que toma o seu estado original, onde todos os seus intervenientes vão florescendo, numa harmonia infindável.
Se foi “obra do acaso” conhecer-te e se o acaso não existe, não é importante. Mas tu entras na minha vida confortando minhas inquietudes e falo contigo, nas virtualidades sentidas, como um apego aos nossos corações apaixonados. Não nos declaramos, mas sentimos que existe um amor latente nos nossos corações. Há uma bondade permanente nas nossas trocas de palavras. Há um sentir que, mesmo fisicamente distante, parece que os nossos corpos estão unidos no calor do sentimento mútuo.
In "Contos de Encantos" - O dia do nosso encontro
excerto
Quito Arantes

Capitulo XXI - A Carta


Neste caminhar ao encontro do “Supremo”, registo acontecimentos da minha aldeia, por adoção. Descubro tradições centenárias, como o fumeiro e o arranjar das carnes para fazer os saborosos enchidos da D.ª Judite, esposa do meu vizinho Tio Franklin, que se preocupa com o meu bem-estar no lugar, desde o dia que lá cheguei. Gente de trabalho árduo, gente de uma simplicidade fora de comum. Podia falar de toda a gente do lugar, mas seria um pouco maçudo. Posso dizer, sem meias palavras, que amo esta gente que me recebeu com as duas mãos de Deus.
Quando tento fazer uma comparação dos citadinos e da gente da serra, vejo que não existe comparação possível, é uma outra forma de estar na vida e na comunidade. É evidente que também encontro gente boa na cidade, mas não é a mesma coisa. Também eu fui um citadino em tempos, e comportei-me como tal, mas algo lá bem acima me disse que seria na serra que encontraria o meu equilíbrio de ser em harmonia com o mundo. O mundo que idealizei e concretizei para a minha vida.
 O constante falar da vida alheia que sempre encontrei na cidade provinciana, não acontece nesta vila encantada no alto da serra. São mundos distintos de desbravam conceitos de vida completamente diferentes. Pena que os jovens não façam nada por preservar o que de mais belo tem a vila e seus lugares. Mas um dia quando só houver uns poucos resistentes nos lugares da vila, vêm os curiosos jornalista, cosmopolitas, num acervo de caricatura levar às cidades imagens esquecidas no tempo.
 Poderemos ser diferentes na forma de estar com o meio ambiente, de desfrutar momentos únicos, mas teremos que fazer mais além disso; lutar por um lugar reconhecido como grande qualidade de vida, onde a revolução industrial não chegou a entrar. Poderemos engrandecer homens e mulheres descendentes de um povo, deixado ao esquecimento, e que só é lembrado pontualmente, em meros roteiros turísticos e telenovelas impreparadas para falar destas gentes. É de louvar trabalhos académicos por antropólogas e arqueólogas que defenderam as suas teses de doutoramento sobre o povo de Castro Laboreiro.
Estou na cidade neste momento e começa-me a doer o peito de saudades da serra. Não vejo o dia chegar ao meu recanto encantado, onde renasci para uma nova vida. Agora, neste momento que te escrevo, penso na vida, em plenitude com minha companheira, envelhecendo ao ritmo natural da natureza, onde o carinho da minha amada me conforta das dolorosas horas de escrita. Sim, porque a escrita também é um ato sofrido, onde sai cá para fora todas as angústias e medos que me abalam em certas histórias e relatos reais. A morte não me aflige, quando a vida é vivida com saúde e sentido de solidariedade com os seus intervenientes. Quero deixar um testemunho de sentimentos pela natureza que me faz mover. Passar por esta vida como se nada tivesse acontecido, seria uma grande miséria de espírito. 
 
Excerto
In "A Carta"
Quito Arantes   

sábado, 4 de janeiro de 2014

Contos de Encantos - excerto

 Reconheço que a simples conversa informal não passou mesmo disso, mas as redes sociais desencadeiam emoções que se vão revelando dia após dia. Dias infelizes tornam-se, de um momento para outro, em ensejos de felicidade, preenchendo corações vazios.
Reconheço também que, desde o primeiro dia, aquele em que travamos conhecimento, houve sempre respeito mútuo. Vidas completamente diferentes, mas com sentimentos muito semelhantes, onde as palavras iam fluindo em carinhos profundos.
Pouco ou nada me importava no que poderia acontecer de futuro, apenas vivia o dia-a-dia, em conversas bonitas e prendadas. E, quando me sentia dominado por um estado de ansiedade, muitas vezes sem fundamento, as suas palavras me acalmavam e me transmitiam a serenidade, por mim tão desejada, para continuar o meu dia, harmoniosamente, em sintonia com a sociedade.
Neste recanto em que me encontro, não deixo, contudo, de acalentar a esperança, em busca de melhores dias, onde reine a paz numa compreensão mútua de seres que se completam. Confesso que nunca foi muito fácil alguém compreender-me, pois nunca fui muito normal para o comum dos mortais, mas agora vejo que há estados de alma que, sem o menor esforço, entram nas nossas vidas…
 
Quito Arantes

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Edição brevemente de "Contos de Encantos"

Olá Amigos(as)!!
Neste ano de 2014 tenho esta novidade para vocês: Sairá brevemente, o meu último trabalho literário, "CONTOS DE ENCANTOS", Com imagem da capa de pintura de Idalina Dionisio e edição gráfica de Pedro Dionisio. São sete contos que têm sido publicados no Jornal A Voz de Melgaço, e agora tomaram forma de livro. Edição Tecto de Nuvens