sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

ATE SEMPRE!


O seu futuro era uma parte incerta, e outra concreta nos seus escritos. Queria tornar-se um escritor de verdade, mas para isso empenhou-se em ler, ler muito, principalmente autores portugueses de referência. Havia uma vaga de novos autores que na realidade escreviam muito bem, dentro do seu género. Francisco Moita Flores, José Luís Peixoto, ou Rosa Lobato Faria, foram autores que ele me disse um dia, que adorou ler. Numa das conversas que tivemos aquando dum fugidio encontro na cidade, ele foi-me dizendo que não compreendia, agora, a pressa da vida da cidade. O fim será sempre o mesmo, devagar ou de pressa, e quando estamos com pressa, não apreciamos as pequenas coisas belas da vida. Questionei-o se ele não andava a fugir de algo, num tom sereno, foi-me dizendo que a vida não se resumia a aglomerados de pessoas, atarefadas, com medo de não chegarem a tempo dos seus objetivos, como se o mundo fosse acabar para semana. Sentir o vento rasgar as urzes, levar as folhas do outono, a chuva enchendo os regatos e por vezes a neve criando mantos de uma brancura sem fim, era coisas que para ele tinham o maior significado. A natureza no seu estado primitivo, quando abria a janela do quarto, dava-lhe a sensação que tinha sido um privilégio a sua decisão de viver no campo.

excerto, a publicar
by Quito Arantes

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

" A Carta nas Quatro Estações "


Capítulo XXVIV

Hoje acordei pela madrugada, fui à janela, e estava, mais uma vez, um manto de neve. A minha pequena ruela, em frente de minha casa, voltou a ficar coberta pelos flocos de neve.
Realmente este inverno está a ser atípico, segundo meus vizinhos. Já não se lembram de um inverno assim tão rigoroso. Para mim, é um teste à minha capacidade de resistir a estas adversidades. A caminhar assim, a lenha não vai chegar, não sei até quando este frio gélido vai permanecer.
Estou a voltar ao meu ritmo madrugador. Deito-me quando as galinhas do meu vizinho e acordo antes do galo cantar. É assim que me tenho sentido melhor, e a escrita rende mais. Amiga! Tudo podia ser mais belo, se os homens que mandam neste mundo, não fossem tão gananciosos e pretenderem o estrelato a qualquer custo. Uns querem os holofotes da fama, outros a ostentação da riqueza, querem tudo o que lhes vai na mente, sem olhar a meios. As coisas fáceis nunca foram sinónimo de boas práticas, mas eu aqui, neste fim de mundo, ou princípio, como lhe quiseres chamar, só me entendo com a simplicidade das ações, para complicado, já chegou a vida que levei, durante muitos anos. Agora na carência do amor, ajoelho-me e peço a Deus que me vá iluminando para uma melhor e abençoada vida com as pessoas que me são próximas e fazem de mim um novo homem.

" Há sempre um sinal a contemplar-nos para um novo caminhar "
Bom dia!!!
by Quito Arantes

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

"A Carta nas Quatro Estações "

Capítulo XXVIV

Todo este emaranhado de sentimentos, flui pelo sentir que a natureza nos oferece. Sair pela manhã fresca, e não sentir o ar carregado, mas sim, toda a pureza da natura que me abarca em cada recanto que observo, é a melhor dádiva do Supremo, que me indica o caminho certo a seguir. Não sou, propriamente, um crente fiel das doutrinas cristãs, mas existe uma força maior que me faz caminhar, cada dia que passo em comunhão com o ambiente serrano. Por vezes as dificuldades naturais são uma forma de crescermos interiormente, de saber que existe um mundo para ser vivido.
Ainda ontem pela manhã, foi tempo de conversa de café, não de achincalhamento da vida alheia, mas de questões sociais pertinentes com que nos debatemos no dia-a-dia. Gosto de conversas interessantes, que me façam crescer como pessoa. Gosto de aprender a cada momento, sentir que a pessoa amiga, me dá novos ensinamentos para o meu caminhar. Entrego-me de corpo e alma a uma boa conversa, gosto de sentir que as pessoas conversando comigo, não é tempo perdido. Eu compreendo que nem toda a gente teve formação para grandes floridos nas conversas, mas a sabedoria popular, e o saber desmitificar ignorâncias, é também, uma forma de estar a vida. Nunca me senti superior a ninguém, sou simplesmente um ser só, que vai aprendendo com o mais humilde do ser humano. Estar com uma pessoa, intelectualmente evoluída é o mesmo que estar com o mais simples cidadão. Vou aprendendo com toda a gente de forma diversa.

Excerto de "A Carta nas Quatro Estações "

by Quito Arantes


segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Um novo olhar sobre a Vila de Castro Laboreiro










Quando a alma não é pequena, há sempre um novo olhar sobre esta Vila carismática de Castro Laboreiro.
Seguindo percursos fora do habitual, deparo-me com novas realidades, por vezes, escondidas dos olhares distraídos. 
Todos os dias,são uma nova novidade, no estar presente de corpo e alma, de quer sentir a terra no seu esplendor. Não me resigno ao óbvio,quero sempre que cada dia seja uma nova descoberta, uma nova forma de viver a natureza e gentes desta terra mágica. 

sábado, 22 de fevereiro de 2014

"A Carta nas Quatro Estações"

Capítulo XXVIII

Acordei cedo, como é habitual, e depois de fazer a minha xícara de café arábico, volto a esta carta para te dizer que longos dias têm este inverno serrano. Acho que já o tinha dito. A chuva voltou em força, depois de várias nevadas e pouco sol à mistura. Penso que o pior do inverno já terá passado, e agora espero pelo renascer da primavera.
Como se do nada surgisse, a minha consciência dita que deverei ser o mais ponderado possível, porque viver stressado não é para mim. Apesar de sofrer um pouco por antecipação, quer pensar que também isso mudarei. Não posso projetar um futuro que não sei ao certo se virá a ocorrer. Terei de continuar a viver um dia após o outro com toda a tranquilidade que me é requerida. Aquele ponto de equilíbrio, tipo Zen, não é definitivamente para mim, não está na minha génese, mas poderei sempre melhorar o meu equilíbrio emocional, todos os dias da minha vida.
Estou a tornar-me um guardador de textos. Não quero pensar que estou a escrever para a gaveta, como aconteceu a uns escritos poéticos que só viram a luz do dia passado vinte e cinco anos. Nesta vida, difícil de escritor anónimo, tentarei sempre que os meus manuscritos sejam editados, para mostrar aos meus leitores e futuros leitores que estou vivo literariamente.
A aprendizagem da escrita criativa tem muito que se lhe diga, e eu, penso que poderei fazer melhor todos os dias que me debruço sobre ela.
Sabes amiga, o tempo vai passando e até parece que foi ontem que deixei a cidade, mas já lá vão três anos. Guardo com estima toda a ajuda dos meus amigos (as), que fazem de mim um homem melhor. Estarei sempre eternamente grato, pelo carinho que têm por mim.


(Excerto) a editar

Quito Arantes

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

" Até Sempre! "

Adolfo era um sentimentalista, por vezes perdia-se nas emoções, e viajava em sonhos sem fim. Ia ouvindo histórias daqui e dali, histórias felizes e outras muito tristes, que tentava memorizar para mais tarde poder ficcioná-las. A informação que ia recebendo era muito avulsa, teria de estruturar as ideias de forma que ganhassem conteúdo.

Para ele começar um livro e desenvolvê-lo era um cavalo de troia, lutava com os seus fantasmas para que tudo corresse bem. Muito embora não fosse enfadonha a sua escrita, por vezes perdia-se em pormenores sem grande relevância para depois entrar a fundo na história. Vivia aquele momento de escrita como estivesse a viver a situação transcrita. Ao criar os enredos, mergulhava neles de corpo e alma. Por vezes queria crer que eram verdadeiros, embora soubesse de ante mão que eram do seu imaginário.

Excerto do livro a publicar
Quito Arantes

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

"CONTOS DE ENCANTOS"

 "O mar estava-lhe no sangue. Estrela, filha de um pescador, vivendo na aldeia piscatória, pois tudo se conjugava para que um dia casasse com um mareante e, assim, dar continuidade à tradição familiar. Mas Estrela não tinha a intenção de ser mais uma viúva da aldeia, a quem o mar levava os seus maridos, sem dó nem piedade. Por isso, Estrela debatia para que se criassem normas estruturais, com a finalidade de restabelecer a pesca tradicional. Queria que os pescadores fossem ao mar, com a certeza, porém, de que em qualquer das situações do momento, regressassem ilesos das crueldades do mar. Gostava que a pesca fosse uma profissão precavida e que ninguém perdesse a vida. Nenhum pescador."

"A maresia de Estrela" - In Contos de Encantos 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

"A Carta nas Quatro Estações"

Capítulo XXVIII - "A Carta nas Quatro Estações"

Neste desgelo, da última nevada, com vontade de ir à civilização, depois de estar três dias, fechado em casa, havia uma necessidade de comprar géneros alimentícios. O carro para não fugir à regra estava com a bateria em baixo. Tive que pedir auxílio a um amigo da vila, que curiosamente me disse: - “ Não sei onde vou estar, sou como o vento!”. Fiquei a pensar na sua frase, e realmente, às vezes andamos ao sabor do vento, coisas da serra, que nos leva pelos sentimentos ancestrais, de um isolamento histórico, só quebrado pelo empenho do pároco da vila, homem de convicções, que deu cinquenta anos da sua vida a este povo serrano.
Este mês de fevereiro, será como um teste à minha capacidade de sobrevivência. Os recursos são muito poucos, quase impossíveis de sustentar a minha vida mundana. Encravado na minha própria sustentabilidade, vejo que o dinheiro é um demónio que nos enxerga, e nos torna dependentes. É de fato uma droga dura, sem tratamento imediato. Depois das despesas fixas pagas, pouco resta para o dia-a-dia, mas vou tentar combater mais esta barreira que aflige minha alma. Sempre esperarei por dias melhores, onde posso sossegar esta minha aflição materialista.
Certamente os povos na época recolectora, sobreviviam, e eram, penso eu, felizes. Esta invenção das civilizações; o salário, ou dinheiro, que no início da sua implantação nas sociedades, não passava duma mera troca por bens, e era um bem adquirido nos recursos naturais, o famoso “sal”. Agora, passados milhares de anos, são os mercados económicos, e grandes banqueiros, que ditam a nossa sorte. Estou consciente que não posso fugir a esta “sina”, mas também, farei sempre o essencial, largar-me do supérfluo, e viver em paz comigo.
Este fevereiro de nevadas constantes, fazem com que me mantenha, mais por casa, que até é bom. Trabalho mais nos meus escritos, mesmo que seja para a gaveta, porque as edições estão muito difíceis.  

Quando regressei da sede do concelho, o sol raiava por entre as nuvens brancas e batia nas montanhas, ainda cobertas por mantos de neve. A fusão destes elementos da natureza, à medida que subia para o meu lugar serrano, fizeram, dizer em voz alta, mesmo que ninguém me ouvisse, só eu, Deus e a natureza; “Como é belo este alto Minho serrano!”

Quito Arantes

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Capítulo XXVII - "A Carta nas Quatro Estações"

A neve cai tempestuosamente há dois dias, e eu, aqui fechado em casa, porque sair, é muito difícil. Tenho mesmo que ir à vila, hoje sem falta. Há coisas que me começam a faltar. Vamos ver o que vou arranjar para me deslocar. É bonito o manto branco de neve, mas tenho saudades dos dias de sol a nascer nas montanhas a leste de minha casa. Não deve faltar muito para as primeiras árvores começarem a florir, como um prenúncio de primavera. No final do mês já os dias crescem cada vez mais, as manhãs serão frescas, talvez ainda haja umas geadas, mas tudo começa a modificar na natureza. Renasce vida na terra, as primeiras aves migratórias começaram a povoar o céu límpido destas montanhas mágicas. As nascentes de águas puras e cristalinas descerão a serra e o gelo derreterá para dar lugar a cursos de águas que irrigaram os vastos campos de meia encosta e vales. Será altura de preparar a sementeiras, isto se o tempo permitir, porque a chuva não nos abandonará tão cedo. As sementes deitadas à terra tanto podem ser em março como em abril, depende do ano. Todos os anos são um pouco diferentes, dependendo do rigor do inverno, que agora, ainda continua rigoroso neste meio de fevereiro.
Sabes amiga, muito trabalho de escrita tem sido executado neste inverno, propício para essas coisas, mais tempo por casa, concentrado no escrevinhar. Este tempo que se faz sentir, rigoroso, e por vezes de tempestades, que até me assusta, não quero levar como uma maldição, mas com naturalidade, é a natureza em transformação, dando a suas voltas, neste planeta azul, que Deus nos ofereceu.
Depois de tomar a minha xícara de café bem quente, estou aqui, novamente, neste escrever-te, com o objetivo de levar até ti, estes sentimentos, este estar em contato contigo, com o mundo. Partilhar o que me vai na alma, levar os meus escritos aos quatro ventos. Este dia é mais uma dádiva de Deus, que me permite estar vivo para mais uma tarefa diária, e fazer render todo o esforço de produzir algo que me faça feliz, comigo e com os outros. Será sempre uma amanhã observadora para novos acontecimentos por mais simples que eles sejam.
 O vento continua e soprar forte, no seu zumbir através das giestas das encostas desta serra amada. Enquanto espero que o dia clareie, vou escrevendo estas linhas para que nada me falte por dizer no dia de hoje.

Sabias! “ O mundo pode não ser suficiente, mas o tempo basta… “

Quito Arantes

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

"A Carta das Quatro Estações"

 
Capítulo XXVI -  "A Carta das Quatro Estações"


Sabes amiga, ontem pôs-se cá um vendaval, aqui na serra, nem te conto, foi de arrepiar. Graças ao Divino, que passou-lhe a neura, e acalmou as intempéries. Há pouco, fui à janela, espreitei, e a neve parece estar de volta, depois de valentes chuvadas e ventos tempestuosos.
Às vezes ponho-me a pensar que podíamos ser um povo feliz, sem viver atormentado no final do mês com as contas para pagar. Custa-me ver famílias amarguradas, perdendo os seus bens, com falta de comida para alimentar os seus filhos convenientemente. Devia ser expressamente proibido distribuir a riqueza desta forma tão desigual. Isto não tem a ver com ideologia política, tem a ver com uma justiça social, e um egoísmo egocêntrico que os Estados não são capazes de pôr termo. Todos sabemos que uma sociedade sem classes é pura utopia, como a história da raça humana assim o comprova, mas que a maior parte da riqueza que existe no mundo está na mão de meia dúzia de pessoas, lá isso é verdade. Se houvesse um conclave das Nações Unidas para erradicar de vez com a pobreza e a fome no mundo, porque todos sabemos que é possível, teríamos um mundo melhor, um mundo de paz e amor pelo próximo. Também sei que o ser humano, por vezes, é maquiavélico e excede o limite do razoável. De vez enquanto, vem-me estes pensamentos existenciais, porque também não sei se um dia, estarei uma valeta pedindo de comer para matar a fome. Não quero para os outros aquilo que também não quero para mim. A mim, não me importa que o outro tenha mais do que eu, desde que eu possa de livre vontade ter uma vida condigna.
Extravasei um pouco o contexto desta carta, mas também é preciso que saibas o que eu penso do mundo em que vivemos, porque agora na hora que eu estou a escrever, está muita gente a sofrer e mesmo a morrer fora de tempo.
Não acredito em salvadores da Pátria, acredito que pode haver gente com capacidade para melhorar o nosso país, gente que não se corrompe, aos interesses instalados, gente com cariz humanista e sensibilidade social. Podíamos ser a flor do atlântico, de montes e vales puros de gente feliz e solidária com o próximo.
O êxodo para as grandes cidades, por melhores condições de vida, e o abandono do interior, deu nisto… Falta de emprego, pouca oferta para muita procura de trabalho. Em lugar de investir num interior rico em recursos naturais, os nossos políticos, preferiram investir num litoral, superlotado, de gente e de bens de consumo, que certamente nunca vai chegar para todos. Se as políticas de organização do território continuarem assim, dentro de quinze anos, podemos dividir Portugal, tipo tratado de “Tordesilhas”, ficaremos um país dividido a meio, numa linha vertical de norte para sul: a “Este” um país desenvolvido e industrializado com todas as carências a nível social. A “Oeste” um país esquecido, parado no tempo, entregue a meia dúzia de resistentes ao capitalismo desenfreado que não se reveem naquele contexto de sociedade materialista, e sem rosto humano.
Sabes amiga, parece que hoje acordei um pouco anarquista, penso eu, mas não é verdade. É simplesmente uma reflexão que de vez em quando, eu acho que devo fazer, para não esquecer, e transmitir, que o mundo não se limita aos dólares ou aos euros, é muito mais do que isso. Claro que precisamos de dinheiro para sobreviver, isso sem dúvida é necessário, mas a organização da sociedade poderia, muito bem, ter uma organização social mais equilibrada para todos poderemos viver mais felizes.

Quito Arantes