E aqui estou, mais uma vez,
acordado pela madrugada de cabeça fresca de um sono “mais ou menos bem
passado”. Mas o importante é, que estarei sempre presente nesta carta que te
escrevo, das quatro estações, que por vezes nos vai transformando em seres
melhores.
Tenho que ter sempre uma música de fundo,
acompanhando o meu escrevinhar, para assim as palavras saírem com maior
fluidez. Em toda esta carta já te falei de mim, de pessoas próximas, da
natureza em constante mutação, mas quero-te falar mais destas estações do ano
que transformam a terra a e a paisagem. Poderei ser, eu, um homem diferente,
para melhor? Espero bem que sim, mas nunca o conseguirei sozinho, terei sempre
que ouvir ensinamentos de pessoas que por gentileza se vão aproximando de mim e
contam episódios de suas vidas sem nada lhes ser pedido. Memorizo o cerne das
questões, vivo histórias que me contam, como se fosse um singular elemento
delas, e vou aprendendo devagarinho, que vidas não devem ser comparadas. Tenho
um certo apreço por gente que se aproxima de mim, que tem boas vibrações com a
minha presença e aí vou escutando com simpatia. Na maior parte das vezes,
sentimentos sofridos, onde pairam acontecimentos vividos por pessoas que longos
caminhos percorreram para chegarem à minha conversa. Não sei se é da viagem que
vou fazendo na minha vida, que me faz sentir um homem melhor. Houve tempos,
tempo longínquos que nada destas coisas me diziam respeito, passava ao lado de
histórias de vida, que certamente seriam fascinantes, mas hoje, não perco uma
boa histórias, venha ela de onde vier, mas, sempre que venha por bem, não vou
muito em histórias de vinganças, não faz o meu género.
Nestes dias de festas natalícias,
terei oportunidade para tentar viver de forma consciente a cidade materna, sem
preconceito, tentando abster-me dos agitamentos citadinos, com se fosse uma
simples mosca se sobrevoa de aroma em aroma. Quero deixar-me ir pela solidez
dos acontecimentos desta terra que me viu crescer de forma um pouco ortodoxa.
Mas hoje homem maduro tento ser consensual por onde passo.
Ontem, eu e meu pai olhávamos pela
janela da saleta. Observávamos as árvores do jardim público que fica logo em
frente, e meu pai dizia: - Ainda há pouco tempo não se via nada para lá das
árvores, hoje estão despidas de folhas.
Notei nele uma certa tristeza desta
“natureza morta”. Sem deixar pousar a
tristeza nele, respondi-lhe:- Deixe lá Pai, é o inverno, daqui a dois meses as
árvores voltam a arrebentar e bonitas flores das ameixoeiras bravas, trarão
alegria ao jardim, anunciando a primavera. Vai ver que daqui a nada já vai ver
tudo verde…
In " A Carta "
excerto
em curso
Quito Arantes
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