Ricardo sabia que lhe esperava um novo mundo
que ainda não tinha vivido, mesmo obtendo informação sobre a comunidade, em
Portugal, iria ser uma nova experiência. Chegado ao centro de reabilitação, foi
recebido por uma jovem que lhe falou em português, e lhe deu as boas vindas.
Paula, a portuguesa que já lá estava há um ano, a primeira pergunta que lhe
dirigiu, deixou-o apreensivo:
- És negativo? Ele respondeu: - Como assim?
- Se não estás infetado com o VIH?
- Ah! Não, não tenho o vírus…
- Chamas-te Ricardo, não é?
- Sim, Ricardo, prazer em conhecer-te.
-Sabes, normalmente aqui há dois tipos de
residentes, os negativos, sem o vírus, e os positivos que contraíram o vírus.
Mas é só isso, convivemos todos juntos, sem problemas.
- Tu vens limpo, ou a ressacar?
- Venho limpo há dois meses, e vim sozinho de
Portugal, de autocarro.
Paula irradiou um sorriso e disse:
- Estranho, normalmente, ninguém vem limpo, e
nunca vêm sozinhos, sempre acompanhados por familiares.
- Eu vim de livre vontade, penso que será bom
para mim.
- Ainda bem que pensas assim. Agora vais ser
acompanhado duas semanas por dois residentes, que te darão todo o apoio que
necessitares.
O centro era todo ele a um estilo barroco, bem
conservado. Tinha um largo pátio com jardim. Ricardo foi conhecendo os
residentes que eram de várias nacionalidades, com predominância de espanhóis e
italianos. O responsável máximo do centro era um espanhol de nome José,
positivo, de poucas falas, mas simpático.
Depois de se inteirar do grupo, começaram a
distribuir tarefas. Ao Ricardo e os dois acompanhantes, coube-lhes os animais.
Do outro da estrada que passava junto ao centro ficava um grande campo,
pertencente ao centro, onde se situava o campo de futebol e os animais. Patos,
galinhas, porcos, etc…
Todos os residentes gostavam de ir para os
animais, pois não era trabalho duro e estavam mais à vontade, fora dos olhos
dos responsáveis do centro. Limitavam-se a dar de comer e a fumar uns cigarros.
Naquela semana, os acompanhantes eram Joseph,
italiano, de Génova, e Pietro de Nápoles. Os dois eram seropositivos, mas que
não transpareciam as suas enfermidades. Inicialmente, Ricardo tinha uma certa
dificuldade em os entender, embora eles falassem castelhano, que era a língua
oficial do centro. Praticamente toda a organização era controlada por
espanhóis. Eram os mais numerosos.
In " Na Rota de Le Patriache "
A editar
(Excerto)
Quito Arantes
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