Resumo prévio de Castro
Laboreiro
A Vila de Castro Laboreiro
possui riquíssimo legado histórico, arqueológico e arquitectónico,
designadamente os monumentos megalíticos, o Castelo de Castro Laboreiro –
classificado como monumento nacional -, as pontes e igrejas medievais, os
fornos comunitários, os moinhos, a actividade agro-pastoril e as singulares
brandas, inverneiras e lugares fixos, testemunhos, também aqui, da prática da
transumância.
As florestas da região são
dominadas por carvalhos. Encontram-se também o medronheiro, o azevinho, o
azereiro, o pinheiro e o vidoeiro. Os matos arbustivos são característicos de
zonas mais elevadas e são constituídos principalmente por tojos, urzes e
giestas. As espécies animais com maior representatividade são o javali, o
veado, o texugo e a lontra.
Na aldeia, os visitantes podem
encontrar alojamento resultante da recuperação de casas típicas castrejas e
moinhos.
A oferta gastronómica é variada,
com pratos típicos que incluem carne de cabrito, bifes de presunto, enchidos,
broa centeio e broa milha. Há ainda dois doces típicos: o bucho doce e a sopa
seca de pão duro.
O nome e de Castro Laboreiro,
deriva de «Castrum» - povoação fortificada pelo povo castrejo, «Laboreiro» vem
da palavra latina «Lepporeiro».
Embora algumas referências
documentais permitam sustentar que existiria um castelo anterior, a
fortificação actual do Castelo de Castro Laboreiro data da segunda metade do
séc. XII e a sua edificação é geralmente atribuída a D. Dinis. A planta revela
padrões góticos bem patentes na integração de cubelos e pequenos torreões nos
panos da muralha da alcáçova. Arruinado e parcialmente desmontado no séc. XIX,
conheceu na segunda metade deste século uma pequena intervenção de limpeza e
conservação.
O Pelourinho é um dos pontos
fulcrais desta localidade. Este pelourinho é de estilo manuelino e a sua
construção deu-se em 1560.
Existe uma mancha megalítica que
se encontra dispersa por uma área superior a 50 km2, pontuando a despida
vastidão planáltica da parte nordeste da freguesia de Castro Laboreiro, a uma
altitude superior a 1100 m. Nesta mancha existem cerca de uma centena de
monumentos megalíticos.
São vários os moinhos que se
integram nesta localidade. Têm a função de converter os cereais (nomeadamente o
centeio e o milho) em farinha. Este produto final iria servir para fazer as bem
conhecidas Broas de centeio ou milho. O milho, além de servir para fazer as
broas, também era usado para fazer uma outra especialidade da zona, a Sopa de
Farinha.
Os fornos comunitários eram
utilizados pelos habitantes da localidade com o objectivo de cozer (na maioria
dos casos) a massa da broa que tinham acabado de fazer. Eles tinham a
preocupação de fazer grandes quantidades de broa para evitar tirar a vez aos
restantes habitantes. O material utilizado na sua construção era a pedra, mas ao
longo dos anos o seu estado de conservação foi-se degradando. Nos dias de hoje,
poucos são os fornos utilizados com esta finalidade.
Em Castro Laboreiro existem 44
aglomerados populacionais, que se dividem em brandas, inverneiras e lugares
fixos. As brandas localizam-se nas franjas do planalto situado a norte, entre
1100 e 1150 metros de altitude. Ao longo do curso médio das linhas de água,
encontram-se os lugares fixos, entre os 950 e 1050m. Mais abaixo, na base dos
vales, em áreas muito irregulares e de difícil acesso, encontram-se as
inverneiras, entre 700 e 800m de altitude.
As brandas, nos lugares mais
altos, são mais agradáveis e produtivas na época do calor, servindo aos animais
também melhores oportunidades de alimentação – é assim uma espécie de casa
comum de veraneio da população e gados da freguesia e de visitantes vindos de
fora. As inverneiras, nas zonas mais baixas, servem de refúgio ao frio e estão
localizadas nos vales da freguesia.
De facto, a ocupação humana de
Castro Laboreiro é comprovável até ao longo passado de quatro ou cinco mil
anos. Nesta região desenvolveram-se sucessivamente duas grandes culturas que
atingiram um grau elevado de civilização: a cultura dolménica e a cultura
castreja. Aqui pode encontrar-se ainda hoje, mais de uma centena de antas ou
dólmenes (será talvez a maior concentração peninsular de dólmenes
pré-históricos); alguns menires; a Cremadoura, a poente da Vila, onde se
incineravam os cadáveres para serem recolhidas as cinzas em vasilhames de barro
(no Mesolítico); doze castros, de há dois mil e quinhentos anos, pinturas e
gravuras rupestres.
Texto
cedido de Sandra Pereira
VárzeaTravessa – Picotim -
Coriscadas – Falagueiras - Queimadelo
Outeiro A-do-Freire – Antões -
Rodeiro- Portela –Formarigo - Teso
Campelo – Eiras - Curral do
Gonçalo – Padresouro – Seara - Portos
Varziela- Cainheiras – Bico –
Curveira - Bago de Cima - Bago de Baixo
Ameijoeira – Laceiras –
Ramisqueira – Barreiro – Assureira - Podre
Alagoa - Dorna – Entalada –
Pontes - Mareco - Ribeiro de cima - Ribeiro de baixo
Histórias e dizeres de Castrejos
Verbo:
Patrão – Calhão
Empregado – Giribau
Trabalho – Valujo
Batatas - Terrenas
Tabaco – Macaio
Água – coreta
Vinho – Cholo
Dinheiro – Gabim
Gomaros – Ovos
Gandir – Comer
Tisco – Cão
Fideus - Esparguete
Trabalho nas minas de volfrâmio:
1936 a 1944
Faziam equipas de dois, três ou
quatro. O trabalho de equipa era feito por famílias
Processo de extracção do minério:
faziam buracos através de uma veia de seixo Filão
Depois era seguido o veio
partido através de implosões com dinamite.
O volfrâmio em cru era vendido aos
contrabandistas.
Chegavam a encontrar bolsas de
um quilo.
Podia-se considerar esta
actividade um trabalho. Tinham muitas vezes que proteger os buracos de
extracção do minério, para não serem roubados. Era gasta uma caixa de dinamite
por semana.
As minas podiam atingir 30
metros e o minério era vendido a 40 escudos o quilo.
Uma curiosidade; as mulheres
tiravam o minério dos restos do trabalho dos homens.
Reza a história que uma família
de galegos, de Lobeira, constituída por um casal e três filhos, fugidos da
guerra civil em Espanha.
O senhor Agostim e sua esposa Vazalixa
e os filhos tinham-se escondido numa casa de gente abastada do lugar do
Rodeiro. Estes galegos foram escondidos debaixo da lareira. Agostim era um
aceso opositor do regime de Franco, por isso o exílio em Portugal. Nessa altura
na vila de Castro existiam os bufos (informadores da PIDE), que ganhavam
dinheiro pelas informações à polícia. Havia três pontos da Guarda Fiscal em
Castro Laboreiro: Portelinha, Ameixoeira e Alcobaça. Depois de serem
denunciados os guardas capturaram-nos e levaram para a ponte do porto, para os castigarem e obterem informações deles. A
filha do casal, de nome Odosea, uma moça bonita de cabelos loiros, ao saber do
que se estava a passar foi ao lugar e disse-lhes para fazerem o que quisessem
mas para os deixar em paz. Abraçou-se ao chefe da guarda implorando pela
libertação dos pais. O chefe da guarda ao ver a beleza fora de comum da jovem
rapariga, apaixonou-se por ela. Fazendo com que não fossem entregues à polícia
espanhola, arranjando forma de os levar para Marrocos.
O guarda só não ficou com ela
porque já era casado. Sabe-se que depois de Marrocos, deslocaram-se para
França. Ainda há pouco tempo Odosea esteve no Rodeiro para visitar o lugar.
Ainda hoje existe a casa, embora
em ruínas, onde se escondera esta família de galegos.
História
contada pelo Senhor Filipe, posto de Turismo
Tudo começou por intermédio de
um galego de Pereira de nome Francisco, que estava em Pamplona.
Depois de se deslocar para
Sercedilha em Espanha, onde se pôs em contacto com um passador, (pessoa que
ajudava a ir para França).
A “Senha” usada em Pamplona
entre os dois era; “ Mi primo José Angel “.
Teria que ir a Vitoria no país
basco, passar pelo café número 8, onde iria aparecer um taxista que os iria
levar.
Ao chegarem ao café numero 8,
sentaram-se numa mesa cinco pessoas, depois veio um senhor e sentou-se com
eles, perguntando se queriam um copo de vinho e que andavam a fazer. Um dos
senhores sentados, um pouco desconfiado respondeu; que vinha para estar com o
Mi primo Jóse Angel para trabalhar na companhia Uriarte.
O Galego disse para entrar no
carro para irem a Pamplona para falarem com um senhor. Depois de entrarem em
contacto com o passador de Pamplona, este levou-os para uma cabana nos Pirenéus
a pé, ficando na cabana cinco dias. O passador ia todos os dias à cabana para dar-lhes
de comer.
Entretanto um pastor basco, que
andava pelas redondezas, estava curioso para saber o que faziam cinco homens
naquela cabana. Então decidiu ir lá perguntar o que fazia naquele lugar,
dizendo: - Que belo covil vocês encontraram!
O Pastor calculando que deveriam
ser pessoas para emigrarem, perguntou-lhes: - Vocês querem ir para França?
Os homens disseram de imediato
que sim, mas um pouco desconfiados, resolveram não o deixar sair até chegar o
homem que lhes vinha dar de comer.
O pastor foi-lhes dizendo que
era um simples pastor para não se preocuparem com ele.
Entretanto o passador chegou e
começou a odisseia; caminharam nove horas meio de meia metro de neve pelas
montanhas, chegando a França à vila de Aldures. Aí foram para uma casa na
montanha que era habitual albergar emigrantes clandestinos. Foram recebidos por
um basco que só falava catalão, por isso foi difícil a comunicação. O basco
resolveu falar com um familiar que falava galego, resolvendo o problema de
comunicação, ficando na montanha cinco dias.
Passados os cinco dias, desceram
a montanha de autocarro para irem para a cidade de Aldures para de seguida irem
para Sª Étienne de Beigures. Depois seguiram para Brest na Normandia. Chegados
a Brest tiveram problemas, um guarda da área onde dormiam pediram-lhe a
identificações. Os cinco clandestinos recusaram mostrar a identificação com
medo de serem descobertos, mesmo assim foram obrigados a identificarem-se. O
guarda ficou com os documentos. Entretanto passou um português, um dos
clandestinos disse ao português para traduzir para o guarda que depois se entregaria.
Foram levados para o posto da polícia para serem interrogados pelo comissário.
O comissário depois de ouvir a história toda mandou chamar o guarda,
perguntando-lhe se alguém lhe deu autorização para reter os documentos dos
estrangeiros. Como o guarda não tinha autoridade para isso foi-lhes entregue os
documentos aos estrangeiros. O comissário foi dizendo que tinham até às 16:00
horas para deixarem a cidade. Depois deste episódio arranjaram um patrão que os
legalizou e fizeram a vida deles a partir daí.
Estava-se no final da segunda
guerra mundial e a França estava arrasada tendo as casas ficado destruídas,
iniciando-se assim a reconstrução das cidades, através dos emigrantes que na maioria
eram portugueses.
História
gentilmente contada pelo Senhor Filipe do Posto de turismo
História da rapariga encantada;
Lenda
A Jovem Encantada
Vivia no lugar do Quinjo, em
Castro Laboreiro, uma princesa que tinha sido encantada sob a forma de uma
serpente, e que trazia uma flor presa na boca.
Era esta princesa fabulosamente
rica e estava disposta a dividir a sua riqueza com quem a desencantasse. Como
ia de 100 em 100 anos à feira de Entrime, em Espanha, altura em que recuperava
a sua forma humana, lá contou como deveria proceder a pessoa que estivesse
disposta a desencantá-la: ir ao lugar do Quinjo e dar um beijo à flor que ela,
já na forma de cobra, trazia na boca.
Se os séculos foram passando sem
que aparecesse alguém suficientemente corajoso para realizar tal façanha, nem
por isso se pode dizer que o tempo tenha apagado nos homens a crença no tesouro
escondido ou tenha esmorecido a fé na sua recuperação, mesmo que para tal se
tivesse de cumprir o ritual prescrito pela lenda.
A cobiça era sentimento mais
forte que a repugnância e o medo, sem contar ainda que a astúcia humana é de
tal forma atrevida e pretensiosa que só por si consegue dar, a quem dela
resolva largar mão, uma coragem inicial que na maioria dos casos, se não é
condição de sucesso é pelo menos de chegada à última etapa possível.
Foi assim que um dia, levados
pela cobiça e apoiados na astúcia, um grupo de homens, tentaram desencantar a
princesa. Se o pensaram, logo programaram a aventura, animados pelo facto de um
deles conhecer os segredos do livro de S. Cipriano, que ajudaria a tomar o
tesouro escondido e defendido pela serpente.
Havia contudo uma dificuldade
que a todos transtornava, e que não viam meio de a superar. Como ganhar coragem
para beijar a serpente? Lembraram-se então os nossos heróis de um cego que
havia no lugar e que pelo facto de não ver, não sentiria repugnância em
praticar o acto. Bastante instado, mas sem saber bem ao que ia, o pobre lá
anuiu em juntar-se-lhes. Reunido o grupo no local certo, no dia e hora combinados,
resolveu o animador da proeza, na intenção talvez de melhor avivar os
pormenores da façanha, puxar do livro e ler a lenda aos companheiros no próprio
cenário onde se iria desenrolar o drama. A um dado passo da leitura, porém,
fez-se ouvir um barulho medonho que, repercutindo-se pelas fragas adiante,
parecia querer fendê-las para delas fazer sair a figura de um monstro.
Nem se interrogaram a respeito
do estranho fenómeno: gasta a última reserva de coragem, ei-los numa corrida
doida, galgando e descendo penedos, na ânsia de alcançar a segurança do lugar
onde habitavam que, estranho ao facto, recuperava no sono a energia gasta num
dia de luta árdua.
Sozinho no lugar do Ouinjo,
ficou o cego, desprotegido de tudo e de todos, e completamente amedrontado.
Valeu-lhe o bordão, seu único apoio e guia, para descobrir forma do chegar a
chão seguro e sossegado. E chegou, passados uns dias a Pereira, uma pequena
povoação espanhola, que lhe deu guarida.
Depois de conhecida a aventura
no lugar, nunca mais ninguém daqueles lugares pensou em repetir a proeza.
Em tempos mais recente, um
jovem, ao saber, por um pastor, da existência da serpente, logo se lembrou da
sua terrível história de amor. A mãe da sua namorada contrariava muito
seriamente o namoro e afeição que a filha mantinha com ele, facto que os
obrigava a encontrarem-se às escondidas por entre as penedias. Não tardou muito
que a mãe desse com o esconderijo dos namorados e, desesperada com a
desobediência da filha, lhe lançasse esta maldição:
- «Que de futuro andes de rastos
como as cobras no alto do Ouinjo».
Passados dias, desapareceu a
rapariga sem deixar rasto!
Associando os factos, não
restaram dúvidas ao rapaz de que se tratava da namorada que cumpria o fado a
que fora condenada pela mãe. A confirmá-lo, lá estava a flor que ele lhe
oferecera e que ela, numa atitude garrida, trazia entre os dentes no momento em
que recebera a maldição
Desesperado pela triste sorte da
jovem e também pela sua infelicidade, subiu ao monte e perguntou à serpente
quais as possibilidades que havia de lhe quebrar o encanto. Respondeu-lhe esta
que bastaria que ele, rapaz, tivesse a coragem de a beijar na boca. Mas,
cautela, se à terceira tentativa o não conseguisse, redobraria o seu encanto e
não mais podia trazê-la à vida e ao seu amor.
Voltou o rapaz mais tarde,
acompanhado com gente amiga, para realizar o desencanto: porém, na altura em
que se aproximou da serpente, esta lançou tais silvos e contorceu-se de tal
maneira que pôs em fuga, todos os que presenciavam a cena. Não desistiu o namorado
e, na segunda tentativa, fez-se acompanhar de um padre, para ajudar o ritual
com as suas rezas, e, esquecido do que havia acontecido aos outros seus
conterrâneos, de um ceguinho que, pelo facto de não ver, poderia substitui-lo
no acto de beijar a serpente com menos repugnância. Repetiu-se a cena anterior
e tanto o padre como o cego fugiram desaustinados.
Entendeu o rapaz que teria que
ser ele sozinho, e sem a ajuda ou apoio de ninguém, mas amparado pelo amor que
nutria pela jovem, a cumprir o feito. Enchendo-se de coragem, aproximou-se da
serpente e, sem dificuldade de maior, deu-lhe o beijo, recebendo em troca nos
seus braços a namorada. Regressaram felizes a Ribeiro de Baixo, seu lugar de
nascimento, e casaram mais tarde na vila.
Cedido
por Sandra Pereira
Dizeres
Castrejos:
“ Quem de verbo não cholica
Gomarros de pisco gande
E não vão todas a este toque.”
Tradução: quem
de verbo não sabe
Ovos de cão comem.
Versos e ditos populares
Castrejos;
Valha te Deus Dominguinhos!
Para onde o vento te levou
Para as alturas do Rodeiro
Onde o Piorno secou.
Eu vou por aqui abaixo
Como quem não vai a nada
Vou abalar uma Pereirinha
Que ainda não foi abalada.
Voto mão a minha gamissa
Quem tem raiva que ravei
Quem tem catarro que tusa
Rua abaixo rua acima
Todo o mundo me quer bem
Só a mãe do meu amor
Não sei que reicha me tem
Tem me reicha tem me reicha
Porque lhe namoro o filho
De não querer que o namore
Que o ate a cinta de atilho.
Eu hei-de ir ao minério
Eu hei-de ir lá trabalhar
Todo o mundo anda no luxo
Eu também quero luxar.
Eu hei-de ir ao minério
trabalhar
Trabalhar ao filão
Com o dinheiro do minério
Hei-de comprar um cordão.
Namorei uma donzela
Orfinha não tinha pai
Era uma nobre Donzela
Vivia com sua mãe
Sua mãe não queria
Que filha amores tivesse
Namorava às escondidas
Onde a mãe não o soubesse
Namoramos nove meses
E não houve novidade
O resto dos nove meses
Pegou-lhe uma enfermidade
Chamada a febre-amarela
Dentro de pouco tempo
Toma a morte posse dela
Sua mãe à cabeceira
Pediu-lhe com grande dor
Que não dava a alma
A DEUS sem se despedir do Amor
Sua mãe lhe perguntou
Como que nada sabia
Onde é que ele morava
Que ela chamá-lo ia
Tu que tens nobre Donzela
Que me mandaste chamar
Tu estás tão doentinha
E eu que não te vim visitar.
Dá-me um abraço antes
Que me coma a terra e o
Produto que tiras da tua
Nobre Donzela.
Sua mãe chamou por ela
Ela não lhe respondeu
Virou a vista para cima
Fechou os olhos e morreu.
A morte negra terrena
Olha o roubo que fizeste
Levaste-me a minha Dama
Para a sombra dos Apalestres.
Do outro lado
Nem chove nem faz orvalho
Se ades ser o eu amor
Não leves tanto trabalho
Não andes por aí de noite
A encher poços e a livrá-los
Do outro lado do rio
Tem meu pai um castanheiro
Dá castanhas no Agosto
Mas brancas no Janeiro.
A Senhora dos Remédios
Eu pro ano volto vim
Com uma alça feita de rosas
Que do céu me adem cair.
No terreiro da Peneda
Tratei o meu casamento
Não tenho pena nenhuma
Palavras levar o vento.
Que é uma coisa muito leve
Mas as minhas são pesadas
Não à vento que as leve.
Amar por amar é brio
Por dinheiro é baixeza
Por interesse e tirania
Por amizade é nobreza.
O meu amor quando te fores
Escreve-me do caminho
Se não tiveres papel
Nas asas de um passarinho
Papel para te escrever
Sai-me da palma da mão
A tinta sai-me dos olhos
A pena do coração.
Entre pedras e pedrinhas
Nascem raminhos de salsa
Hei-de amar a moreninha
Que a branca saiu-me falsa.
Semeie e não colhi
Também poderá colher
Semeie os teus carinhos
Não me quiseram nascer.
Semeie a salsa verde
No meio dos olivais
Só para ver se me esquecias
Cada vez me lembras mais.
Menina que é bonita
Não devia de nascer
É como a maçã vermelhinha
Que todos a querem comer.
Chamaste-me pera verde
Pera verde quer ser
Quero cair de madura
Mas não me hades comer.
Minha maçã vermelhinha
Vermelha na macieira
Vermelhinha de casada
Que faria de solteira.
O inferno é tão fundo
Cento e cinquenta escaleiras
Para descerem por elas
As línguas marmuradeiras.
Falaste de mim falaste
Falaste eu bem o sei
A tua boca sujaste
Eu como estava fiquei.
Biba o lugar do Rodeiro
Viradinho cara o frio
Prendem os amores nele
Como o salgueiro no rio.
Viva o lugar do Rodeiro
Não e vila nem cidade
Dentro dele se passeia
A gala da mocidade.
Amores ao longe
Ao perto qualquer os quer
Amores ao pé da porta
São a perdição de alguém.
Tomei amores com o vento
Não sei se faria bem
O veto é um bandoleiro
Não tem amor a ninguém.
Namorei-me namorei-me
Não me soube namorar
Namorei-me de um vadio
Que não me soube estimar.
O que honor vais ganhar
Às alturas do Rodeiro
Vim passar por próprio alcoviteiro
Mas devo às pedras arte
Às armas a boa instrução
Devo aos meus superiores
Uma bela educação.
Sei um cento de cantigas
E mais uma saquinha
Se me puxares pela língua
Desato-lhe a varassinha.
Cantares
dos pastores;
Ó que noite tão escura
Não se vê nada por ela
Meninas deste lugar
Ponham luzes à janela.
Quem me dera amar um dia
Ter amor, ter afeição
Ser escrava, dar a vida
Por um terno coração.
Quero cantar e não sei
Mas, espero aprender
Também, espero um dia
A tua porta bater.
Bareira linda bareira
Bareira linda do mar
Eu perdi-me na bareira
Na bareira vou ficar.
Dentro do meio peito
Tenho duas espinhas de peixe
Uma diz-me que te ame
Outra diz-me que te deixe.
Sou do Minho sou do Minho
De Castro Laboreiro natural
É o cantinho mais lindo
Que tem Portugal.
Cantai moças, cantai, todas
Alegrai a nossa terra
Que não digam os de fora
Que não mora ninguém nela.
Eu cantar, cantaria bem
Também tinha linda voz
Não sei quem a levou
Desde que vim pra onde voz.
Arrasai-vos Carvalheiras
Penedos caiem ao chão
Que nem a mocidade
Da Senhora da Numão.
Rapazes e raparigas vede
Por onde andais
A honra é como o vidro
Se quebra não se solda mais.
Ó linda rosinha branca
Deixa-te estar fechada
Que uma rosa aberta é
Uma rosa enxovalhada.
Vou cantar a bareira
Já que outra moda ao sei
A bareira bem cantada
Chega ao palácio do rei.
Não olhes para mim não olhes
Eu, não sou o teu amor
Não sou como a figueira
Que dá fruto sem flor.
Ó ares da minha terra
Vinde por aqui e levai-me
Os ares da minha terra
Não fazem senão matar-me.
No terreiro da Peneda
Tratei o meu casamento
O ano vai passado
Palavras levam o vento.
Daqui pra minha terra
Tudo é caminho chão
Tudo são cravos e rosas
Dispostos por minha mão.
Senhores não se admirem
Por eu cantar e não saber
Ainda sou muito nova
Ainda posso aprender.
Dentro do meu peito tenho
Ao lado do coração
Duas letras que me dizem morrer
Sim, Deixar-te não.
Debaixo da oliveira
Não se pode namorar,
Tem a folha miudinha
Deixa passar o luar.
Ó Senhora da Numão
Santinha tão milagrosa
Que guardou o Manuel Joaquim
Que o não comesse a raposa.
Ó Senhora da Numão
Aonde se ela foi
Por entre giestas e penedos
Carvalhinhos em redor.
Traje de cor das raparigas
solteiras: aos Domingos
Preto= Mulheres casadas;
Lenço
Blusa corpete = Soutien
Blusa
Combinação de flanela
Saia branca
Saiote
Saia
Avental
Algibeira
Calções
Socas
Capa
- O traje de cetim era usado para
festas e Domingos
- No inverno utilizam o de
picote ou burel e no verão utilizam um mais leve.
Algumas curiosidades;
- Capa= sinal de luto; Quando o
marido partia, (emigrava trajavam de preto tirando as jóias incluído a aliança.
As chamadas “ viúvas dos vivos”, não iam a festas nem bailes e nunca mais
casavam, não procurando mais outros maridos.
- A Capela é um
traje muito antigo, um género de capa que ia até ao pescoço.
- As noivas casavam de
negro com um lenço de seda amarelo e um manto que era o véu que utilizam
atravessado. Podia ser de lã, de veludo ou cetim.
- Namorar a culada; Só podia namorar depois das 23.00 horas
quando os vizinhos já estavam a dormir para não verem entrar o rapaz na casa da
rapariga. Namoravam na presença dos pais.
A freguesia de Castro Laboreiro
é constituída por vinte e dois lugares, sendo sete de população fixa, isto é,
que são habitados regularmente durante todo o ano, e todos os outros de
população móvel, com duas habitações, uma nas Verandas (Brandas) e outra nas Inverneiras.
A origem dos nomes dos lugares relaciona-se, na maior parte das vezes, com a
sua situação, função, semelhança com outros objectos ou a existência de animais
selvagens. Assim, o lugar de TESO
(do latim TENSUS: estendido); ENTALADA
- comprimida entre montes e outeiros; DORNA
vem da própria forma do lugar: uma dorna; AÇOREIRA,
terra onde habitavam muitos açores e milhafres reais; BARREIRO, local de muito barro e com muitos declives, CAMPELO, de pequeno acampamento romano;
CURRAL DE GONÇALO, local onde se
alojam os animais de origem pastoril; EIRAS,
local plano que parece uma eira, onde se malhava e se limpava ao vento o
centeio; PADRESOURO, de padrão ou
marco militar, pois por aí passava a via romana; SEARA, de terreno próprio para o cultivo de cereais; PORTOS DE CIMA OU DE BAIXO significam
passagem elevada da via romana.
Todos os locais como PORTO, PORTELA, PORTELINHA, PORTELA DA
VILA, PORTEIRO indicam-nos sempre locais por onde passava a via romana; FURMARIGO, de origem germânica, que
significava " chefe de grupo " ; PORTELA,
entrada da Vila; LAGOA, local onde
está ou esteve depositada água; MARECO,
de marco, local onde existe o último marco terrestre da fronteira Galaico - Minhota; PONTES, local onde havia outrora várias pontes; PORTO a PONTES,
passagem da via romana; AMEIXOEIRA
(Ameijoeira), terra de muitas ameixas; BAGOS
DE BAIXO e de CIMA, (do latim vagus), que significava ermo, abandonado; CURVEIRA, devido às curvas da via
romana; BICO, de um grande penedo em
forma de bico de águia-real; CAINHEIRAS,
porque aí os cães e os lobos viviam, em alcateias; VARZIELA, várzea pequena, em lugar ameno, junto ás margens do rio;
VILA, vem do núcleo castrejo, isto é, povoação castreja; PODRE, local sombrio, onde até a lenha apodrece; RAMISQUEIRA, local de muitas árvores e
arbustos; LACEIRAS, local de
passagem de animais de grande porte onde se faziam laços para prender e
domesticar os animais selvagens; CASTRO ou CRASTO, povoação cercada por três
filas de muralhas, construída 500 anos antes de Jesus Cristo e que sobreviveram
até ao século VI da era de Cristo; VARZEA
TRAVESSA, lugar que vem da sua posição á via romana, atravessada pela via
romana; VIDO, terra onde há muitos vidos; PORTELINHA,
de porta pequena pela qual passava a via romana; CORISCADAS, de coriscos, local onde caíam muitas faíscas; FALAGUEIRAS, de falar para o outro lado
do rio; QUEIMADELO, onde se faziam
muitas queimadas; OUTEIRO, local
alto e desamparado; ADOFREIRE (A DO
FREIRE), local dos frades, cavaleiros da ordem dos templários; ANTÕES, local das antas; RODEIRO (RUDEIRO), de rude, sinal de
passagem das rodas (rudeiro, local isolado ou rude); COVELO, onde há uma fortaleza dos Celtas.
Padre Aníbal Rodrigues, ao
serviço da Igreja e de Castro Laboreiro 50 anos, 1995.
trabalho de edição de Francisco Arantes 2013
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