domingo, 8 de outubro de 2017

Porque és assim?

Existiram dias que nunca devia ter saído de casa, foram risco de demência em que estive sujeito, mas se não tivesse saído também não saberia o intervalo e limite da sanidade e da loucura. Fechado no meu casulo, como se tivesse que tecer longos lenços de seda do além para dar voz às minhas tormentas.
Por vezes subo o lajeado frio e denso de coisa nenhuma, num passo certeiro como se houvesse um sinal de chamamento ao meu coração ferido sei lá por quê…Quando chego ao cimo do lajeado e ter o foco localizado num abstrato caminhante, dou por mim voltado aos meus avessos sem razão de voltar a descer o lajeado, mas a teimosia e vontade de encontrar o desconhecido é mais forte que os meus pés doridos de tanto caminho.
O passo é curto e lento, a respiração é suave e regular. Olhar leva-me a um encontro indefinido. Cruzo um e outro olhar e nada me detém na procura de uma paz prometida por um Deus qualquer…
Hoje como ontem as coisas voltaram àquela viagem sem fim que me levará até onde as forças já não caibam em mim. Mas até lá vou no meu passo seguro, lento e decisivo como se fosse encontrar o que mais desejo. Mas não, nunca chegarei lá. Porque chegar lá, ao sítio do desejo infinito não fará muito bem à alma. Talvez a mate de certezas, e isso não quero para mim, nem para ninguém.
Página 17
Peter Quiet in " Porque és assim? "

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