Com vinte e quatro anos, estatura mediana, rosto fino,
cabelos pretos e olhos verdes, era de facto um bom exemplar
de homem. Sempre trajando roupas escuras, não abdicando
dos seus casacos tipo blazer.
Ricardo vivia com uma tia, solteira, que prometera à
mãe dele, falecida, ainda muita nova, de cancro, que o
educaria e lhe daria um futuro.
O pai nunca o tinha conhecido, simplesmente nunca
apareceu à sua mãe depois de uma noite tórrida de sexo.
Aquando dessa noite de sexo, sua mãe já sabia que tinha a
enfermidade e resolvera seduzir o homem de quem ela
gostava, embora ele não desse sinal do mesmo. Seria este
quem a fecundaria.
Passados três anos de Ricardo nascer, a doença fatal
atacou sua mãe. O pai simplesmente evaporara-se sem nunca
saber que era pai de Ricardo, nunca mais se ouviu falar dele.
Muitas pessoas diziam que ele tinha viajado para os Estados
O Homem da Cidade
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Unidos.
Sua tia Rosalina, irmã da mãe, dez anos mais velha do
que ela, e já prestes a aposentar-se da função pública, tomou
conta de Ricardo como fosse um filho seu. Educou-o, levou-o a tirar uma licenciatura e, muitas vezes, parava na janela da
sua varanda, vendo-o chegar, sempre com um sorriso para
ele. Rosalina via nele a sua infeliz irmã que não chegou a ter
oportunidade de ver o filho crescer, se tornar um homem.
Ricardo apanhou o TUB nº17, e enquanto fazia a curta
viagem, relia o curriculum, para que nada lhe escapasse. Era a
primeira entrevista de emprego a sério. Claro que já tinha
passado pelas caixas de hipermercados e fast-foods, mas este
emprego era para a sua área e isso punha-o em “pulgas”.
Sua tia dissera-lhe: - Sê tu mesmo! Não deves nada a
ninguém, mostra-lhes que és responsável.
Quito Arantes (2019). O Homem da Cidade - Mais perto do Céu!, Páginas 7/8
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