terça-feira, 23 de junho de 2020

O Homem da Cidade - Mais perto do Céu!, Páginas 7/8 (Excerto)

Com vinte e quatro anos, estatura mediana, rosto fino, cabelos pretos e olhos verdes, era de facto um bom exemplar de homem. Sempre trajando roupas escuras, não abdicando dos seus casacos tipo blazer. Ricardo vivia com uma tia, solteira, que prometera à mãe dele, falecida, ainda muita nova, de cancro, que o educaria e lhe daria um futuro. O pai nunca o tinha conhecido, simplesmente nunca apareceu à sua mãe depois de uma noite tórrida de sexo. Aquando dessa noite de sexo, sua mãe já sabia que tinha a enfermidade e resolvera seduzir o homem de quem ela gostava, embora ele não desse sinal do mesmo. Seria este quem a fecundaria. Passados três anos de Ricardo nascer, a doença fatal atacou sua mãe. O pai simplesmente evaporara-se sem nunca saber que era pai de Ricardo, nunca mais se ouviu falar dele. Muitas pessoas diziam que ele tinha viajado para os Estados O Homem da Cidade 8 Unidos. Sua tia Rosalina, irmã da mãe, dez anos mais velha do que ela, e já prestes a aposentar-se da função pública, tomou conta de Ricardo como fosse um filho seu. Educou-o, levou-o a tirar uma licenciatura e, muitas vezes, parava na janela da sua varanda, vendo-o chegar, sempre com um sorriso para ele. Rosalina via nele a sua infeliz irmã que não chegou a ter oportunidade de ver o filho crescer, se tornar um homem. Ricardo apanhou o TUB nº17, e enquanto fazia a curta viagem, relia o curriculum, para que nada lhe escapasse. Era a primeira entrevista de emprego a sério. Claro que já tinha passado pelas caixas de hipermercados e fast-foods, mas este emprego era para a sua área e isso punha-o em “pulgas”. Sua tia dissera-lhe: - Sê tu mesmo! Não deves nada a ninguém, mostra-lhes que és responsável.
 
Quito Arantes (2019).  O Homem da Cidade - Mais perto do Céu!, Páginas 7/8

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