terça-feira, 26 de maio de 2020

Memórias de um Psicótico - Quito Arantes, Páginas 77/78 (Excerto)

No dia da partida, tomou um duche bem quente, vestiu a melhor roupa que tinha e lá foi para o aeroporto acompanhado por dois agentes. Foi posto numa sala de segurança, na qual também se encontrava um romeno. O homem tinha um aspeto de poucos amigos e, de um momento para o outro, começou a fazer o pino de braços, fazendo também flexões. O homem era completamente passado, mas não deu sinais de violência. Chegada a hora, entrou para o voo da KLM com destino a Lisboa. Ao seu lado, também estava um deportado português, este sim por roubo de carros. Era um transmontano com a cara tatuada, sentou-se ao lado dele contando as suas aventuras por terra das tulipas. Era a quinta deportação e não pensava ficar por ali. Quando chegaram ao aeroporto da Portela, o transmontano disse-lhe para se dirigir à Santa Casa da Misericórdia e alegasse que não tinha dinheiro e que queria ir para o norte, para a sua cidade. Mas como ia até ao centro de Lisboa se não tinha dinheiro! O problema foi resolvido de imediato, o transmontano tira o sapato e debaixo da palmilha tirou uma nota de cinquenta Marcos alemães. Foi cambiar a nota e deu-lhe algum dinheiro para apanhar o autocarro para o centro de Lisboa. Tiago agradeceu-lhe e depois ele desapareceu sem deixar rasto.
Quando chegou ao centro de Lisboa, dirigiu-se à Santa Casa. Foi aos serviços sociais e explicou-lhes o que lhe tinha acontecido. A senhora dos serviços, muito simpática, deu-lhe mil Escudos (cinco Euros) para comer e um bilhete de comboio para o norte. Agradeceu à senhora e, logo de seguida, foi comer um bom prego no prato com ovo a cavalo.

Quito Arantes Memórias de um Psicótico, Páginas 77/78

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