sexta-feira, 28 de março de 2014

"A Carta nas Quatro Estações" Capítulo XXXIV

Como se eu pudesse dizer que estou caminhando ao encontro do meu verdadeiro princípio de homem livre, vejo os dias com a clareza de um olhar novo, rejuvenescido e transpondo certas amarguras que em nada alguém terá culpa disso. Interpreto de uma forma mais concisa os valores da terra.
Ontem recebi mais pés de morangos para a minha morangueira suspensa. Não perdi tempo, e mesmo de robe vestido, fui até ao terraço e no meu vagar, num tempo gélido, acrescentei à terra os pés de morangos. A terra estava gelada, mas enquanto plantava-os não havia frio que me arredasse, estava feliz naquele encanto de mexer em terra e ver a minha plantação morangueira. Só mesmo quando entrei para casa, senti nas pontas dos dedos uma dor aguda, provocada pela terra gelada. Pude constatar que, por vezes, as alegrias vividas em certos momentos, podem ser precedidas de dor, mas o exercício metal, onde é evocado quanto é belo a construção humana em contato com a natureza, anula toda a dor física.
Os meus canteiros, meios jardins, meio horta, tomam forma, onde nesta primavera verei todo o meu trabalho de campo dar os seus frutos.
Talvez esta minha nova ligação à terra esteja nos genes. Meu avô paterno fora um grande agricultor, no sentido que criou doze filhos, com o trabalho nos campos, numa agricultura de outros tempos, onde tudo era feito de sol a sol. Obrigado avô Bonifácio por me teres dado estas alegrias de gostar de mexer a terra.

Infelizmente, quando pude olhar meu avô, já estava doente, mas recordo-o com carinho, como se fosse hoje, a sua serenidade de homem do campo.

by Quito Arantes

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