As mulheres da vila onde vivo, vestem-se de preto, não porque
enviuvaram, mas porque a tradição assim o manda, seja verão ou inverno. Marido
longe, ou emigrado, as vestes pretas, nas mulheres casadas, assim persistem, e
por vezes para toda a vida. Até as noivas que casam sobre a tradição, vão
vestidas de preto, com um lenço ao pescoço de seda amarelo.
Este é um Portugal raiano no ponto mais nordeste que poucos
conhecem, e que tem história e pré-história à vista de todos. Desertificada
devida à forte emigração e migração para as cidades por melhores condições de
vida, poucos jovens aqui persistem. Assim a parte humanizada da vila e lugares
que a circunscrita, muitos já desabitados, certamente têm muitas histórias para
contar e encantar ao forasteiro que por lá passa, curioso de tamanha beleza
natural. É um concílio entre o humano e a natureza, ali não existiam agressões
ao ecossistema.
Poderei neste inverno antecipado, tentar reconciliar-me com a
minha consciência. Ver que é preciso muito jogo de cintura para sobreviver
neste recôndito tão bonito. Terei que fazer reflexões bem consistentes para
levar a cabo os meus intuitos.
Daqui a nada chegará a neve, porque as geadas já são fortes e o
gelo já predomina. Da minha janela do escritório a neve será vista como noutros
anos, serena no seu cair, em pequenos flocos de uma brancura sem fim.
A editar
Quito Arantes
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