sexta-feira, 22 de novembro de 2013

"A CARTA" Capitulo XIV - Inverno


As mulheres da vila onde vivo, vestem-se de preto, não porque enviuvaram, mas porque a tradição assim o manda, seja verão ou inverno. Marido longe, ou emigrado, as vestes pretas, nas mulheres casadas, assim persistem, e por vezes para toda a vida. Até as noivas que casam sobre a tradição, vão vestidas de preto, com um lenço ao pescoço de seda amarelo.
Este é um Portugal raiano no ponto mais nordeste que poucos conhecem, e que tem história e pré-história à vista de todos. Desertificada devida à forte emigração e migração para as cidades por melhores condições de vida, poucos jovens aqui persistem. Assim a parte humanizada da vila e lugares que a circunscrita, muitos já desabitados, certamente têm muitas histórias para contar e encantar ao forasteiro que por lá passa, curioso de tamanha beleza natural. É um concílio entre o humano e a natureza, ali não existiam agressões ao ecossistema.
Poderei neste inverno antecipado, tentar reconciliar-me com a minha consciência. Ver que é preciso muito jogo de cintura para sobreviver neste recôndito tão bonito. Terei que fazer reflexões bem consistentes para levar a cabo os meus intuitos.
Daqui a nada chegará a neve, porque as geadas já são fortes e o gelo já predomina. Da minha janela do escritório a neve será vista como noutros anos, serena no seu cair, em pequenos flocos de uma brancura sem fim.
 
A editar
Quito Arantes

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