Carrego a mala do carro, deixo a cidade, vou em direcção ao meio rural serrano.
A necessidade em encontrar um tempo útil de descanso, abstendo-me do stress citadino, tornou-se óbvia.
Quando chego ao alto da serra, vendo as suas gentes, onde o tempo segue o seu curso normal, sem atropelos, logo me ponho a pensar na minha condição de citadino que a compaixão por estas paragens terá uma razão de ser. O silêncio paira sem as vozes altas de quem discute futebol ou a vida alheia. Ouve-se o deslizar do vento agreste do Outono e o latir do cão serrano que anuncia a passagem de um transeunte isolado. As fragas nas brandas, brotam as águas cristalinas que irão dar de beber aos seres vivos que despertam para a vida singela.
As mulheres vestem-se de preto, não só por viuvez mas também por tradição e costumes. Carregam os fardos de feno que mal se vê seus corpos, porque à que alimentar o gado que lhes dará sustento para o inverno. O pouco centeio que ainda colhem leva uma «batida» para no fim do seu percurso dar-lhes o pão que de mais sagrado aquece o coração.
Tudo isto é mágico, ancestral, é um mundo que nos conta a história de um povo interiorizado, esquecido, neste país materializado nas cidades implantadas ao pé do mar. O mar sim, maravilhoso e devemos aproveitar as suas riquezas sustentadas. É bonito ir para a praia bronzear o corpo saído do ginásio, passar a manhã numa fila de trânsito, buzinando, pondo os nervos em franja.
Eu, espero que a brandura da noite chegue para olhar a estrela polar que me há-de levar ao norte, seja ele geográfico ou magnético.
Quito Arantes
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