sexta-feira, 28 de junho de 2019


Nos longos anos que estivemos sem contacto, por vezes, pensava nele; que safadeza estaria ele a fazer, ou que relação amorosa estaria ele a passar…. Foi com um enorme prazer que fiquei, ao ver um homem renovado, sem preconceitos, estava bem com ele mesmo. Lutara pela vida e o amanhã era uma visão que não esperava ter. Amanhã logo se veria o que iria passar. Apesar das suas mazelas urológicas e psiquiátricas, havia nos seus olhos um brilho cativante que fazia manter as pessoas por perto. Irradiava sensações e energias positivas, não era homem para se lamentar das suas amarguras e doenças. Assumia a sua condição, sem nunca “deitar a toalha ao chão”. Era incrível como ele ironizava sobre as suas doenças. Até assustava a forma nua e crua como falava tão descontraído.
Falou-me que, o seu retiro espiritual, depois do cancro da próstata, foi uma lufada de ar fresco na sua vida. O dinheiro, para ele, era para ser gasto em projetos de realização pessoal e coletiva. Estava sempre pronto para doar alguns euros para ONG de defesa de animais selvagens. Marco não queria ser diferente, queria que alguém pensasse como ele, não só, no dia a dia, mas também globalmente. Queria que houvesse uma aliança internacional para acabar com o compadrio, descobrir curas para o cancro, que as indústrias farmacêuticas continuam a tentar prolongar as doenças e não curar. A ganância pelo dinheiro, pela ostentação e pela luxúria, eram coisas que trancavam a sua inteligência.
Havia nele um dom, era interpelado pela ciência, ou antes, pelos técnicos de saúde como um doente crónico, mas, no fundo, nada de anormal havia nele. Marco via as coisas com olho de lince, algo que fosse percetível, não deixava de colocar o seu espiríto crítico em ação, e de uma forma em que a lógica das coisas prevalecia.

Páginas 60/70
Peter Quiet
em curso
in "O Incontinente "

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