Não
fora fácil deixar a sua casa de longos anos, onde memórias de muito tempo
vivido ficaram para trás. Fora ali que criara os seus filhos, vivera duas
relações que lhe deram três filhos lindos, mas a vida tinha que andar para a
frente. A sua nova casa em terras dos nossos vizinhos, talvez fosse o fim de
linha. “ Who knows?”.
Andreia
procurava sair do stress em que andava a viver. Chegara a uma altura que sua
vida não fazia sentido se não fosse no trabalho artístico, aquilo que realmente
gostava e a fazia feliz. O trabalho de professora fora como uma forma de
sobrevivência, um local, um sentido de responsabilidade, pois havia filhos para
criar, e isso estava a frente de tudo. Agora que a vida estava mais
estabilizada procurava realizar-se a ela própria. Havia muitas formas de o
conseguir, mas achou que num lugar longe de tudo e de todas as suas relações
passadas, talvez fosse a melhor opção.
Andreia,
Jorge e a filhote dela, naquele momento formavam seu mundo, onde se conjugava
toda a sua atividade artística. Acabaram os rodopios frenéticos da cidade, a
escola e os alunos indisciplinados. Na sua nova casinha e na companhia de quem
mais amava, parecia sentir-se feliz. Tudo parecia um sonho, um conto de fadas.
Os habitantes da pequena aldeia eram simpáticos, apesar de estranhar no início
aquela presença da família portuguesa. Mas como estavam acostumados a gentes
dos dois lados da fronteira, foram-se habituando à sua presença.
Andreia,
por vezes, falava com os anjos, tinha um sentido espiritual muito para além da
religiosidade baseada no discurso dos sacerdotes. Havia um anjo que a
acompanhava desde criança, um anjo chamado “Esperança”. Era como um desejo que
se ia realizando a seus pedidos. “Esperança”, guiava num sentido da justiça
social, de querer o bem em seu redor. Talvez esta forma espiritual que fazia
dela nunca desistir dos seus sonhos, a tenha levado a encontrar o caminho que
sempre desejara.
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Quito Arantes